sábado, 31 de julho de 2010

O Sonho e a Realidade

O sonho de Coubertin era uma festa esportiva internacional que rompesse as barreiras de classe, de raça e de religião. Apresentava, esperançosamente, um potencial pacífico, levando a aprimorar o entendimento e a harmonia entre as nações. Por certo, tais motivos eram nobres.

Mas, também o eram os motivos por trás dos Jogos Olímpicos originais da Grécia antiga. Com o tempo, contudo, tais Jogos antigos apresentaram grande abismo entre a motivação e a realidade. Os peritos indicam que os competidores de vários eventos, lá naquele tempo, vieram a ser conhecidos por sua brutalidade, ao invés de por sua elegância e esportividade. Isto se deu, em especial, no boxe, na luta-livre e na prova aberta a todos, conhecida como pancrácio, onde se misturavam o boxe e a luta-livre.

Nos tempos modernos, os motivos nobres também, em grande parte, cederam seu lugar às duras realidades. Como assim?

Histórico dos Jogos

É interessante recapitular sucintamente a história das Olimpíadas para vermos como se desenvolveram até sua forma atual. O que com o tempo aconteceu com os antigos Jogos poderá encontrar paralelismo no evento moderno.

Os primeiros Jogos Olímpicos de que se tem registro foram realizados no ano 776 A. E. C., nas planícies de Olímpia, na Grécia ocidental. Essa era quase a mesma época em que o antigo profeta hebreu, Isaías, começou a profetizar à nação de Judá. Mas, ao passo que Isaías falava sobre o Deus vivo, os antigos gregos dedicaram suas Olimpíadas ao falso deus Zeus. Visto que os jogos honravam a Zeus, havia sacrifícios feitos a ele e a outros deuses míticos. Havia também a adoração da Tocha Olímpica.

Naquele tempo, os Jogos consistiam de apenas um único evento, uma corrida a pé. Por haver muitos contendores, das várias cidades-estados da Grécia, os corredores participavam de diferentes “eliminatórias” ou corridas. Os vencedores de tais eliminatórias competiam então uns com os outros. O primeiro homem, a cruzar a linha na corrida final era proclamado o vencedor. Este método ainda é usado hoje em dia.

Por volta de 708 A. E. C., os Jogos introduziram outras provas, tais como a de saltos, arremessos e lutas. Mais tarde, o boxe e as corridas de carros foram adicionados. Uma das novas provas mais altamente apreciadas era o pentatlo, em que cada participante competia em cinco diferentes eventos: corrida, saltos, lutas, e arremesso de disco e de dardos. Uma forma alterada do pentatlo ainda existe nas Olimpíadas modernas — dez eventos para os homens e cinco para as mulheres.

Os vencedores dos tempos antigos recebiam uma coroa de folhas de oliveira brava e obtinham grande aclamação. Arautos anunciavam seus nomes por todo o país. Dedicavam-se estátuas a eles, e os poetas escreviam poemas a seu respeito.

Todos os competidores dos antigos Jogos tinham de fazer um juramento, declarando que tinham gasto pelo menos dez meses nos preparativos. Também juravam ater-se às regras e não recorrer a nenhuma prática desleal.

Com o passar do tempo, os atletas de outros países participaram das provas. Gradualmente, porém, a finalidade original da glorificação dum indivíduo passou para a glorificação da sua nação. Também se tornaram mais evidentes o egoísmo e a brutalidade. Por volta de 394 E. C., os Jogos se tornaram tão corrutos que foram abolidos pelo Imperador Teodósio, chefe do Império Romano Oriental.

Após quinze séculos, em 1896, foram reavivados. Naquele ano, o Barão Pierre de Coubertin, de França, ajudou a organizar os primeiros Jogos Olímpicos modernos em Atenas, Grécia. Tomaram parte deles oito nações. (Os Jogos Olímpicos de Inverno não começaram senão em 1924.) Desde seu reavivamento moderno, os Jogos têm sido realizados a cada quatro anos, exceto durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.

Para onde vão as Olimpíadas

Do correspondente de “Despertai!” no Canadá

OS PRÓXIMOS Jogos Olímpicos estão programados para Moscou, no verão setentrional de 1980. No entanto, num sentido diferente, muitos ficam pensando para onde vão os Jogos. As pessoas perguntam se este evento esportivo poderá sobreviver em sua forma atual.

Por que isto acontece? Por várias razões. Uma delas tem que ver com o âmbito ampliado dos Jogos. Com o decorrer dos anos, muitos novos eventos foram acrescentados. Mais países e atletas do que nunca estão envolvidos. Por causa disso, exigem-se cada vez maiores instalações para a realização de todos os eventos e para o alojamento de milhares de participantes, de repórteres e de assistentes. Torna-se impraticável que qualquer nação, exceto as mais ricas, patrocine os Jogos em sua forma atual.

Outra razão tem que ver com a política. As diferenças que os países têm com outros são refletidos nos Jogos Olímpicos. Quando os antagonismos são bastante profundos, algumas nações até mesmo boicotam o evento.

As animosidade causa das pelo extremo nacionalismo sempre existem. Cada país tenta ganhar tantas medalhas quantas for possível, quase a qualquer custo para o atleta. Vários países dispõem de amplos programas esportivos, que começam na infância, destinados a produzir ‘super atletas’, primariamente para obter prestígio nacional. Algumas rivalidades beiram quase a uma guerra, em especial entre várias nações comunistas e ocidentais.

Daí, há as rivalidades pessoais. Os atletas ficam submetidos a intensa pressão pessoal e nacional para vencer, e, não raro, sentem profundo antagonismo para com os outros atletas. Alguns tapeiam ou tomam drogas para obter vantagens.

Todos esses problemas, e outros, vieram à tona nos últimos Jogos realizados em Montreal, Canadá, no verão setentrional de 1976. Assim, o que é saudado como um evento para promover a compreensão e a boa vontade internacionais, não rara produz resultados diferentes.

sábado, 24 de julho de 2010

O prêmio

“Os corredores numa corrida correm todos”, disse o apóstolo Paulo, “mas apenas um recebe o prêmio”. (1 Coríntios 9:24) O que importava era vencer. Não havia medalhas de prata ou bronze, nem segundo ou terceiro lugares. “Vitória, ‘Nike’, era o objetivo derradeiro do atleta”, explicava a exposição. “Só a vitória importava, visto que ela era o verdadeiro e único reflexo de seu caráter, tanto físico como moral, e o orgulho da sua cidade natal.” Essa atitude é resumida por um ditado de Homero: “Aprendi a ser sempre superior.”

O prêmio concedido ao vencedor nos Jogos Pan-helênicos era apenas simbólico — uma coroa de folhas. Paulo chamou-a de “coroa corruptível”. (1 Coríntios 9:25) No entanto, o prêmio tinha muito significado. Representava a própria força da natureza que concedeu seus poderes ao vencedor. A vitória, que os competidores buscavam com total dedicação, significava nada menos do que a concessão do favor divino. Partes da exposição mostravam como os escultores e pintores da antiguidade imaginavam Nike, a alada deusa grega da vitória, quando ela estendia a coroa ao vencedor. Vencer na Olimpíada era o auge da carreira de qualquer atleta.

As coroas olímpicas eram compostas de folhas de oliveiras silvestres — de pinheiro ístmico, de loureiro pítio, ou de aipo silvestre de Neméia. Os organizadores de jogos em outras partes do país ofereciam dinheiro ou outros prêmios para atrair os competidores mais qualificados. Diversos vasos, em exibição pública, haviam sido dados como prêmios nos Jogos Pan-atenienses, realizados em Atenas em honra à deusa Atenas. Essas ânforas, ou grandes vasos de cerâmica com duas asas simétricas, continham originalmente precioso óleo ático. No lado de um dos vasos há a representação da deusa e a inscrição “prêmio pelas competições de Atenas”. No outro lado tem a representação de um evento, provavelmente aquele em que o atleta obteve a vitória.

Cidades gregas gostavam de compartilhar a fama dos seus atletas, cujas vitórias os transformavam em figuras heróicas na sua cidade natal. A chegada dos vencedores era celebrada com procissões triunfantes. Erigiam-se estátuas deles com ofertas de agradecimentos aos deuses — uma honra que de outro modo não se dava a mortais —, e poetas cantavam em sua honra. Depois, dava-se aos vencedores os primeiros lugares em cerimônias públicas e eles recebiam pensões custeadas pela cidade.

As modalidades de esporte

Comparado com o atletismo moderno, o número de modalidades era bastante reduzido, e apenas homens participavam. O programa das antigas Olimpíadas não tinha mais de dez modalidades. As estátuas, os relevos, os mosaicos e as pinturas em vasos de terracota, expostos no Coliseu, retratavam os atletas em ação.

Havia corridas a pé de três distâncias: o estádio, equivalente a uns 200 metros; a corrida dupla, comparável aos atuais 400 metros; e a corrida de longa distância, de uns 4.500 metros. Os atletas corriam ou faziam exercícios totalmente nus. Os competidores no pentatlo participavam num conjunto de cinco provas: corrida, salto em distância, arremesso de disco, arremesso de dardo e luta. Outras competições incluíam pugilismo e pancrácio, este último descrito como “esporte brutal que combinava socos com luta livre”. Depois havia a corrida de carros puxados por cavalos por uma distância de oito estádios. Os carros eram leves, abertos, com rodas pequenas, e puxados por dois ou quatro potros ou cavalos adultos.

O pugilismo era extremamente violento e às vezes fatal. Os competidores usavam em torno dos punhos tiras de couro duro, reforçadas com pedaços de metal. Não é difícil imaginar por que certo competidor, chamado Stratofonte, não conseguiu reconhecer a si próprio quando olhou num espelho depois de quatro horas de luta. Antigas estátuas e mosaicos comprovam que os pugilistas ficavam horrivelmente desfigurados.

Na luta romana, segundo as regras, o lutador só podia agarrar a parte superior do corpo do adversário; e o vencedor era quem fosse o primeiro a conseguir imobilizar o outro no chão três vezes. Em contraste, no pancrácio não havia nenhuma restrição de onde segurar o oponente. Os competidores podiam dar pontapés, socos e torcer articulações do corpo do adversário. Os únicos golpes não permitidos eram arrancar o olho com o dedo, arranhar o adversário ou mordê-lo. O objetivo era imobilizar o oponente no chão e obrigá-lo a desistir. Alguns achavam esse “o melhor espetáculo de toda a Olimpíada”.

Diz-se que o mais famoso encontro pancrácio da antiguidade ocorreu no final da Olimpíada de 564 AEC. Arraquião, que estava sendo estrangulado, ainda conseguiu deslocar um dos dedos do pé do seu rival. O oponente, vencido pela dor, rendeu-se no mesmo instante que Arraquião morreu. Os juízes declararam o cadáver de Arraquião vencedor da luta.

A corrida de carros puxados por cavalos era a mais prestigiada das modalidades e também a mais popular entre os aristocratas, visto que o vencedor não era aquele que guiava os cavalos, mas o dono do carro e dos cavalos. Os momentos mais críticos na competição aconteciam no começo da corrida, quando os condutores tinham de manter-se na sua própria faixa e, mais difícil ainda, quando tinham de fazer a curva com o carro em torno dos postes nas duas extremidades da pista. Erros ou faltas podiam causar acidentes que tornavam esse evento popular ainda mais espetacular.

Esportes da antiguidade e a importância de vencer

“CADA homem que toma parte numa competição exerce autodomínio em todas as coisas.” “Quando alguém compete . . . nos jogos, não é coroado a menos que tenha competido segundo as regras.” — 1 Coríntios 9:25; 2 Timóteo 2:5.

Os jogos a que Paulo se referiu eram um aspecto integrante da antiga civilização grega. O que nos diz a História sobre tais competições e o ambiente em que eram realizadas?

Recentemente, realizou-se no Coliseu de Roma uma exposição sobre os jogos gregos, Nike—Il gioco e la vittoria (Nike — O jogo e a vitória). A exibição forneceu algumas respostas à pergunta acima e deu o que pensar a respeito do conceito cristão sobre os esportes.

sábado, 10 de julho de 2010

Atitude Para com o Jogo

Não foi por não apreciar o futebol profissional. Eu o apreciava. Deliciava-me em jogar contra os melhores jogadores desta nação, confrontando minha perícia com a deles.

Na verdade, trata-se dum jogo duro, e cada ano dezenas de profissionais ficam gravemente feridos. Com efeito, todo ano, um de cada oito jogadores, segundo se afirma, precisa ser operada no joelho. O temor de ficar contundido, porém, não teve nada que ver com minha desistência. Francamente, eu gostava do confronto físico.

Financeiramente, ganhava mais dinheiro, em um só ano, no futebol profissional, do que poderia ganhar em vários anos na minha presente profissão de carpinteiro. E tinha a perspectiva de ganhar muito mais nos anos vindouros.

Algo melhor do que o futebol americano de primeira categoria

Dois jogadores profissionais de futebol americano nos contam o que verificaram ser muito melhor.

HOUVE época em que os esportes eram mais importantes para mim do que comer ou dormir. Eram toda a minha vida. Tendo-me desenvolvido fisicamente a ponto de ter 1,90 metros de altura e pesar mais de 90 quilos, tornei-me bem conhecido no atletismo colegial.

Na faculdade, concentrei-me no futebol americano, jogando como ponta de lança na Universidade da Califórnia em Berkeley. Fui escolhido durante três anos como o melhor jogador da “All Pacific Coast” e, quando veterano, entrei para o time do “Pro-Grid All America”, seleção composta pelos profissionais do futebol.

Daí, em 1973, fui convocado para os “Oakland Raiders”, uma das melhores equipes do futebol profissional. Tive uma primeira temporada bem sucedida. Mas, em 1974, quando larguei o futebol, isso constituiu notícia de primeira página na seção esportiva local. O Chronicle de São Francisco noticiou:

“Um ‘grupo de persuasão’, formado por dois representantes do ‘Raider’ até agora não conseguiu mudar a idéia [dele] . . . Que ele é agora reconhecido como grande jogador é atestado pela urgência dos enviados do ‘Raider’ em tentar convencê-lo a voltar.” — 21 de junho de 1974.

Muitos perguntam: “Por que desistiu? Por que abandonou tão brilhante futuro no futebol?”

Arruaças no futebol — mal ou sintoma?

Do correspondente de Despertai! nas Ilhas Britânicas

“DEVEMOS ter uma excitante final da Taça da Europa, digna do nome”, veiculou o jornal Times, de Londres, de 29 de maio de 1985. Mas, acrescentou: “Bruxelas se prepara para a chegada dos torcedores do Liverpool. . . . Montou-se enorme aparato policial.”

Mesmo assim, 38 pessoas morreram e mais de 150 ficaram feridas, quando alguns arruaceiros agiram à solta no Estádio Heysel, em Bruxelas no jogo entre a Inglaterra e a Itália. Noticiou o jornal Daily Mail, de Londres:

“A tragédia, uma hora antes de o jogo começar, foi causada quando os torcedores do Liverpool, possivelmente provocados, avançaram contra a área da multidão de torcedores do Juventus. Havia apenas um frágil alambrado separando as duas torcidas naquele ponto, e os torcedores do Liverpool passaram por cima dele e o derrubaram. O muro e as cercas improvisadas ruíram sob o peso dos italianos que fugiam em pânico . . .

“Depois de o muro ruir, os homens com a parte de baixo de seu corpo presa, e esmagados no meio dos destroços, gritavam de agonia, com os braços estendidos suplicando ajuda.

“Mas em sua volta e na parte de cima da arquibancada, os torcedores ainda brigavam, chutando e esmurrando uns aos outros, e atirando petardos . . . O tumulto foi visto pela televisão em 80 países que faziam a cobertura ao vivo do jogo . . . Mais de 1 hora e meia depois da tragédia, enquanto os capitães de ambos os times apelavam para que todos tivessem calma, os torcedores de ambos os lados ainda zombavam da polícia anti-motins da Bélgica, e atiravam neles garrafas, latas, pedras, rochas, e rojões acesos.”

Estas arruaças, contudo, não são algo novo. Torcedores que criam tumultos têm espalhado o pânico, corridas desenfreadas e mortes durante e depois de muitos jogos de futebol. Ora, no mesmo mês do desastre de Bruxelas, 8 pessoas morreram e 51 ficaram feridas num tumulto entre torcedores no Estádio Olímpico da Cidade do México! Mas, citando-se apenas alguns outros incidentes:

Em outubro de 1982, 20 pessoas morreram após uma partida de futebol no Estádio de Lênine, em Moscou. Em fevereiro de 1981, outras 19 morreram em Pireu, na Grécia. Em agosto de 1980, 16 morreram em Calcutá, na Índia. Em fevereiro de 1974, lá no Cairo, Egito, 48 pessoas foram pisoteadas até morrer. Em junho de 1968, brigas entre torcedores em Buenos Aires, na Argentina, resultaram em 72 mortes. E, em maio de 1964, pelo menos 318 pessoas morreram e 500 ficaram feridas em Lima, Peru, ao irromper uma briga quando o árbitro anulou um gol peruano.

As arruaças no futebol, contudo, predominam em especial entre os torcedores ingleses. O Times, de Londres, imprimiu uma lista triste que enumerava os feitos dos arruaceiros nas partidas de futebol inglesas nos últimos 23 anos. Os torcedores dos clubes ingleses provocaram devastações em diversas cidades européias, tais como Roterdã, Paris, Saint-Étienne, Turim, Madri, Basiléia, Oslo, Amsterdã, Bruxelas, Valência, Copenhague, Luxemburgo e Lisboa. Não é de admirar que os europeus chamem as arruaças futebolísticas de “mal inglês”.

Narrando a tragédia de Bruxelas, o repórter David Miller, do Times de Londres, refletiu os sentimentos de muitos, ao escrever: “Do lado de fora, um monte de ambulâncias e de unidades médicas de emergência cuidavam dos mortos e dos feridos numa cena que nos faria lembrar um campo de batalha, e enquanto a briga continua horrendamente pelas ruas, é preciso exigir-se seu fim.”

As arruaças no futebol são deveras uma praga para a sociedade. Mas, poderia a violência ligada a tais arruaças ser simples sintoma? Se for, de que moléstia?