“É preciso ter dentro de si um fogo”, disse certa vez um ex-treinador de futebol americano, “e não existe nada que atice mais esse fogo do que o ódio”. Até mesmo o ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan, disse certa vez, segundo alegado, a uma equipe universitária de futebol americano: “Você pode sentir um ódio limpo por seu adversário. É um ódio limpo, visto ser apenas simbólico, dentro da camiseta da equipe.” Mas, será realmente bom nutrir tal ódio pelo adversário?
Bob Cousy, ex-jogador e grande astro do basquete, da equipe dos “Boston Celtics”, expressou-se certa vez sobre sua tarefa de marcar Dick Barnett, um jogador que fazia muitos pontos para os “Los Angeles Lakers”. “Eu ficava sentado em meu quarto de manhã até à noite”, disse Cousy. “Eu só ficava pensando em Barnett, em parte repassando o modo de competir com ele e em parte cultivando ódio contra ele. Na hora em que entrava na quadra, eu estava tão inflamado que, se Barnett me dissesse ‘Olá’, eu provavelmente daria um pontapé nos dentes dele.”
O fato é que os jogadores com freqüência tentam deliberadamente contundir seus adversários para que abandonem a partida, e são recompensados por isso. Ira Berkow, cronista esportivo, disse que um jogador de futebol americano que consegue contundir um adversário, obrigando-o a abandonar a partida, é “abraçado e cumprimentado [pelos colegas de equipe] por uma tarefa bem executada. Se conseguiu aplicar bastantes desses golpes prejudiciais . . . ele é recompensado, no fim da temporada, com um aumento de salário, ou, no caso de jogadores que não são grandes craques, com uma extensão do contrato. Assim, os jogadores orgulhosamente consideram uma honra ser chamados por apelidos, tais como o Cruel Joe Greene, Jack (Assassino) Tatum”, e assim por diante. — The New York Times, 12 de dezembro de 1989.
Fred Heron, um tackle [jogador que procura agarrar o adversário] da equipe de “St. Louis” de futebol americano, relatou: “Os treinadores nos disseram que o zagueiro ou armador [do “Cleveland Browns”] tinha o pescoço machucado. Sugeriram que, se eu tivesse oportunidade, deveria tentar tirá-lo do jogo. Assim, durante a partida, eu atravessei a linha de jogadores, passei correndo o centro e o marcador, e lá estava ele. Tentei machucar-lhe gravemente o pescoço por agarrá-lo com o braço, e ele perdeu o controle da bola e a deixou cair. Meus colegas de equipe me elogiavam. Mas eu vi o zagueiro deitado no chão e se contorcendo obviamente de dor. Subitamente, pensei comigo mesmo: ‘Será que me transformei numa espécie de animal? Esta é uma simples partida, mas eu estou tentando aleijar alguém.’” Todavia, Heron observou: “A torcida me aplaudia entusiasticamente.”
Muitos lamentam as contusões resultantes da extrema competitividade como um dos principais problemas dos esportes atualmente. Infelizmente, milhões destas contusões envolvem menores de idade que bem cedo em sua vida são expostos a jogos altamente competitivos. Segundo a Comissão de Segurança de Produtos do Consumidor, dos EUA, a cada ano quatro milhões de menores são tratados em salas de emergência, devido a contusões esportivas, e calculadamente oito milhões de outros são tratados por médicos da família.
Muitas crianças e adolescentes sofrem atualmente de lesões pelo empenho excessivo, que eram raramente vistas há alguns anos. Quando as crianças jogavam apenas para divertir-se, elas voltavam para casa ao se machucarem e não jogavam de novo até que a ferida tinha cicatrizado ou a dor passado. Mas, nos esportes altamente competitivos e organizados, as crianças e os adolescentes continuam jogando, lesionando ainda mais as partes do corpo já feridas ou doloridas. Segundo Robin Roberts, um astro e ex-arremessador de beisebol, os adultos são a principal causa do problema. “Estão exercendo pressão demais — psicológica e física — sobre os meninos, muito antes de eles estarem preparados para isso.”